domingo, 19 de julho de 2009

A carta

A próxima carta que te vou escrever vai ser em papel branco e com tinta invisível. Vais abrir o envelope, selado com cera cor de vinho e cuidadosamente, retiras a carta, a carta que tem escritas todas as palavras que te quero dizer, a carta que vai revelar a história que te conto em silêncio todos os dias antes de adormecer, a carta que te vai fazer voar para longe, como o vento faz voar um saco de papel, levanta voo e desaparece, para sempre.
Vou encher um copo de água com açúcar, pegar num pincel fino e escrever-te. Sim é isso que vou fazer, até porque para além de falta de opções não acredito na velha máxima “ as mais belas palavras são aquelas que ficam por dizer “. As mais belas palavras são ditas, escritas ou murmuradas todos os dias; são proferidas em cada silêncio, em cada toque e tem cada olhar. Por isso vou escrever-te, vou passar para o papel com uma letra floreada todas as palavras belas que tenho para ti, vou dizer-te que o silêncio é na verdade uma vontade quase incontrolável de falar, a ausência aperta-te o coração como os sapatos dos grandes estilistas me apertam os pés, a saudade é o London Eye, está voltada para a sua alma gémea sem lhe poder tocar e a paixão é um terminal de autocarros e cada um tem o teu nome escrito no destino.
Acende a luz. Precisas de luz para ler as minhas “mais belas palavras”.
Acende um holofote, precisamos mesmo de luz.

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