domingo, 7 de fevereiro de 2010

Nua (I)


Simples, clara e serena repousa uma musa sobre os lençóis brancos como a neve, quentes como o inferno e loucos como o paraíso. Dorme, harmoniosamente, nua deixando-se revelar, em pequenos goles, por entre os permeáveis lençóis.

Dorme nua. A sua mão assenta num cume gémeo em perfeição, cume que se assemelha a fruta de época madura, doce, sumarenta e repleta e cores e sabores; a outra mão desliza por entre os cabelos negros e revolteados espalhados sem nexo na almofada desenhando mil sombras da noite, das noites…

Arrepiada, a pele conta a sua história em cada toque e gesto, como um livro em Braille revela a história que nele foi gravada.

Respira.

No seu rosto elevam-se os lábios rosados e magoados que murmuram em silencio memórias e gestos gravados…

Acorda.

Enquanto rebola e desliza por entre os lençóis o sol reflecte no seu rosto. As pestanas tornam-se janelas de sombras curiosas, as faces iluminam-se com o sol e os olhos, meio acordados, espelham o nascer do sol sob o rio…

Sorri.

Afinal os seus olhos não reflectem apenas no sol…

Levanta-se e caminha, serpenteando, até ele.

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